Osteoartrite: diagnóstico e tratamento
Ariel Fernando V. Agreda, Daniel Costa Guimarães

Sumário

Definição

  • A osteoartrite é uma doença articular degenerativa, condição na qual se verifica dano qualitativo e quantitativo da cartilagem articular, determinando neoformação óssea subcondral em associação a algum grau de inflamação secundária.
  • A doença caracteriza-se pelo desgaste da cartilagem articular e por alterações ósseas desencadeadas ou agravadas pela ação de fatores biológicos (como genéticos, inflamatórios, metabólicos, hormonais, envelhecimento) e mecânicos (como trauma, displasia óssea, obesidade, desalinhamentos, neuropatias com perda de propriocepção etc.).
  • É a forma mais comum de artrite, com acentuada variabilidade no quadro clínico. No Brasil, a prevalência na população geral é de 4,1% e de 15,8% após 55 anos de idade.

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Classificação

  • Osteoartrite (OA) única ou múltipla:
    • Tem predileção pelos joelhos, quadris, articulações interfalangianas, primeiras articulações carpometacarpianas (CMC), primeiras articulações metatarsofalangianas (MTP) e articulações apofisárias.
  • OA generalizada:
    • Implica um subconjunto poliarticular de OA que normalmente envolve articulações interfalangianas distais, base do polegar (primeiras articulações CMC e articulações trapeziosesfoides), primeiras articulações MTF, articulações facetárias cervicais e lombares inferiores, joelhos e quadris.
    • Caracteriza-se pelo acúmulo lento de envolvimento de múltiplas articulações ao longo de vários anos.
    • O marcador ao exame clínico, para OA generalizada, é a presença de múltiplos nódulos de Heberden, que são nódulos duros posterolaterais das articulações interfalangianas distais, frequentemente acompanhados por nódulos nas articulações interfalangianas proximais (nódulos de Bouchard).
    • Não existe um número de articulações afetadas para classificação como OA generalizada, mas as orientações são:
      • Presença de OA na coluna vertebral e pelo menos em outras duas regiões articulares (American College of Rheumatology – ACR).
      • Presença de OA nas mãos e pelo menos em outras duas regiões articulares (European League Against Rheumatism – EULAR).

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Quadro clínico

  • Dor articular:
    • Do tipo mecânica protocinética: piora com o uso das articulações e alivia com o repouso.
    • Piora no final da tarde e no início da noite, mas também pode piorar pela manhã, logo após o despertar, que dura em torno de 30 minutos.
    • Também pode haver dor noturna na osteoartrite (OA) intensa que pode interferir no sono.
  • Limitação de movimento:
    • Amplitude do movimento reduzida, consequência, principalmente, dos osteófitos marginais e espessamento capsular.
  • Deformidade articular:
    • Causados por remodelação óssea e da cartilagem, subluxação articular.
    • Sinal de dano articular avançado.
  • Instabilidade articular:
    • Ceder ou dobrar é um sintoma comum.
    • Ocasionalmente, as pessoas podem tropeçar e cair, mas geralmente é um sentimento de apreensão e falta de confiança para carregar o peso.
    • Pode estar associado à fraqueza muscular localizada, devido ao desuso.
  • Quadro clínico da OA de mãos:
    • Dor.
    • Rigidez.
    • Incapacidades: manuseio de chaves, talheres, dificuldade para escrita, abrir potes, abotoadura.
    • Nódulos ósseos.
    • Desvios articulares.
    • Perda de força da preensão palmar.
    • Perda de força para pinça.
    • Rizartrose: dor em face volar e dorsorradial da mão.
    • Grau de evolução e limitação funcional pode mostrar desproporção clínico-radiológica.
    • Pode se apresentar de forma mais agressiva como osteoartrite erosiva de mãos.
  • Quadro clínico da OA de quadril:
    • Dor em região inguinal, glútea e face anterior da coxa.
    • Rigidez.
    • Perda de mobilidade: rotação interna com a coxa fletida.
    • Incapacidades: entrar e sair do carro, colocar sapatos.
    • Marcha antálgica.
    • Frequentemente de início unilateral.
  • Quadro clínico da OA de joelhos:
    • Dor.
    • Rigidez.
    • Perda funcional: ajoelhar, pegar objetos no chão, subir escadas.
    • Acometimento da porção medial da articulação tibiofemoral é mais comum (Figura 4), o acometimento lateral isolado é incomum.
    • É incomum que a dor seja posterior.

Figura 1 Nódulos de Heberden.

Figura 2 Osteoartrite da articulação carpometacarpiana do polegar ou rizartrose.

Figura 3 Radiografia de quadril. Notar redução significativa do espação articular e um grande osteófito acetabular (seta).

Figura 4 Radiografia de joelhos: (1) redução do espaço articular em porção medial, (2) esclerose óssea subcondral e (3) osteófitos.

Figura 5 Osteoartrite dos joelhos com deformidade em varo.

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Diagnóstico

  • O diagnóstico é clínico (dor na articulação acometida) e pode ser complementado com exame de imagem, principalmente a radiografia da articulação acometida. É possível solicitar também tomografia ou ressonância magnética, dispensável na maioria das vezes.
  • Radiografia convencional:
    • Permite a detecção de características incluindo osteófitos marginais, estreitamento do espaço articular, esclerose subcondral e cistos.
    • Pode ser usada para medir o estreitamento do espaço articular.
  • Ressonância magnética:
    • Não é necessária para a maioria dos pacientes com sintomas sugestivos de osteoartrite (OA).
    • Pode identificar OA em estágios iniciais da doença.
    • A sensibilidade da ressonância magnética é menor do que a das técnicas clínicas e radiográficas no diagnóstico da OA, e não há indicação do uso na prática clínica de rotina, para o diagnóstico de OA.

Critérios de diagnóstico

Critérios de classificação da osteoartrite de mãos (ACR, 1990)

Critérios de classificação da osteoartrite de joelhos (ACR, 1986)

Critérios de classificação da osteoartrite de joelhos (ACR, 1986)

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Tratamento

  • Objetivos:
    • Alívio de sintomas.
    • Redução da incapacidade funcional e melhora funcional:
      • Prevenção de quedas.
      • Independência funcional.
      • Manutenção da capacidade laboral.
    • Retardo da progressão da doença.

Tratamento não farmacológico

  • Educação:
    • Orientação sobre a doença.
    • Explicar que não é consequência da idade.
    • Associação a fatores mecânicos.
    • O paciente é o agente do tratamento; somente medicamentos não resolvem.
    • Pacientes com maiores índices de autoeficácia tendem a relatar menos dor.
  • Redução da carga articular:
    • Todas as medidas para minimizar a carga sobre determinado segmento musculoesquelético.
  • Perda de peso:
    • Se sobrepeso ou obesidade.
    • Meta: perda de 2 pontos do índice de massa corpórea ou 10% do peso.
    • Pode influenciar o prognóstico até de articulações que não sofrem sobrecarga do peso, como mãos.
  • Exercício físico:
    • Aeróbico de baixo impacto: caminhada, hidroginástica, natação, remo, bicicleta.
    • Alongamento.
    • Fortalecimento muscular.
      • Não há diferença no controle da dor em exercícios de alta ou baixa intensidade na OA de joelho.
    • Equilíbrio – recomendação condicional (baixa evidência).
  • Práticas mente-corpo:
    • Tai chi – joelhos e quadris (recomendação forte).
    • Yoga – joelho (recomendação condicional).
    • Terapia cognitivo-comportamental (recomendação condicional).
  • Órtese:
    • De mão – osteoartrite CMC (recomendação forte), condicional para outras articulações.
  • Assistência à deambulação:
    • Bengala – quadril e joelho (recomendação forte).
    • Braçadeira tibiofemoral – joelho (recomendação forte).
    • Braçadeira patelofemoral (recomendação condicional).
  • Acupuntura:
    • Recomendação condicional.
  • Métodos físicos:
    • Calor ou frio – mão, quadril e joelho (recomendação condicional).
  • Ablação por radiofrequência – joelho (recomendação condicional).

Tratamento farmacológico

  • Sintomáticos:
    • Analgésicos comuns:
      • Dipirona.
      • Acetaminofeno: recomendação condicional a favor, ACR 2020 e efeito sintomático questionável.
    • Anti-inflamatório não esteroide (AINE) tópico:
      • Joelho (recomendação forte).
      • Mãos (recomendação condicional).
      • Vantagem de menos efeitos sistêmicos.
    • Capsaicina tópica:
      • Joelho (recomendação condicional a favor), ACR 2020.
    • AINE oral:
      • Fortemente recomendado.
      • Inibidores seletivos e não seletivos de cicloxigenase-2.
      • Menor dose e tempo possíveis.
      • Períodos de piora da dor e inflamação.
      • Atenção para efeitos adversos: trato gastrointestinal, renais e cardiovasculares.
      • Grupos de risco: idosos, doente renal crônico, uso concomitante de corticoide, antiagregante plaquetário e anticoagulantes.
    • Duloxetina:
      • Recomendação condicional a favor, ACR 2020.
    • Tramadol:
      • Recomendação condicional a favor, ACR 2020.
  • Recomendação condicional contra, ACR 2020:
  • Intra-articular:
    • Corticoide articular:
      • Osteoartrite de joelhos e quadril (recomendação forte).
      • Guiado por ultrassom em quadril.
    • Ácido hialurônico:
      • Joelhos e primeira CMC (recomendação condicional contra), ACR 2020.
      • Quadril (recomendação forte contra).
  • Cirurgia:
    • Doença grave (lesão em imagem).
    • Limitação funcional e dor sem resposta ao tratamento clínico.
    • Ausência de contraindicações clínicas e ortopédicas.
    • Vontade do paciente.
    • Opções:
      • Osteotomia.
      • Artroplastia.
      • Artroscopia.

Algoritmo

AAS: ácido acetilsalicílico; AINE: anti-inflamatório não esteroide; IBP: inibidor da bomba de prótons.

Fonte: adaptado Adebajo A, 2012.

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Prescrição na prática

  • Exemplo de prescrição (cada caso deve ser avaliado individualmente e a decisão deve ser tomada pelo médico responsável pelo caso).
  • Analgésicos comuns:
    • Dipirona 500 mg, tomar 1 a 2 comprimido a cada 6 horas, VO.
    • Paracetamol 500 mg, tomar 1 comprimido a cada 6 horas, VO.
  • AINE tópico:
    • Diclofenaco gel, aplicar sobre a articulação acometida de até 3-4 x/dia, por 5 a 7 dias, tópico.
    • Cetoprofeno gel, aplicar sobre a articulação acometida de até 3-4 x/dia, por 5 a 7 dias, tópico.
  • AINE oral.
    • Diclofenaco 50 mg, tomar 1 comprimido VO a cada 8 horas, por 5 a 7 dias.
    • Cetoprofeno 50 mg, tomar 1 comprimido VO a cada 8 horas, por 5 a 7 dias.
    • Naproxeno 500 mg, tomar 1 comprimido VO a cada 8 horas, por 5 a 7 dias.
    • Meloxicam 7,5 mg, tomar 1 comprimido ao dia VO, por 5 a 7 dias.
    • Celecoxibe 200 mg, tomar 1 comprimido 1-2 x/dia VO, por 5 a 7 dias.
  • Opioides:
    • Tramadol 50 mg, tomar 1 comprimido a cada 6 horas, VO.

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Referências

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