Baixa estatura na criança

BAIXA ESTATURA NA CRIANÇA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Larissa Kallas Curiati

DIAGNÓSTICO
Diagnóstico clínico
• A história clínica e o exame físico completo são fundamentais para a avaliação da baixa estatura (Quadro 1).
Quadro 1 Anamnese e exame físico da criança com baixa estatura.

Cálculo da estatura-alvo
• É importante para avaliar o potencial genético de estatura da criança e é realizado de forma diferente entre os sexos:
• Sexo feminino = [(altura do pai (cm) + altura da mãe (cm) – 13)/2] ± 5 cm
• Sexo masculino = [(altura do pai (cm) + altura da mãe (cm) + 13)/2] ± 5 cm
Velocidade de crescimento
• Indicador de extrema importância na avaliação do crescimento. Após o nascimento, a velocidade de crescimento (VC) reduz progressivamente até a puberdade, quando apresenta uma nova aceleração durante o estirão puberal (Tabela 1).
Tabela 1 Velocidade de crescimento (média) de acordo com a faixa etária pediátrica.

Fonte: Alves CAD, 2019.
• Relação segmento superior/segmento inferior – útil na avaliação de baixa estatura desproporcionada (Tabela 2):
• Segmento inferior = medida da sínfise púbica até a planta dos pés.
• Segmento superior = estatura – segmento inferior.
Tabela 2 Relação segmento superior/segmento inferior (valores médios) em crianças e adolescentes.

Fonte: Alves CAD, 2019.

Diagnóstico laboratorial
• O diagnóstico laboratorial pode ser direcionado de acordo com a suspeita clínica, a história clínica e exame físico. Nos casos nos quais não houver suspeita etiológica, deve-se realizar uma triagem em busca de alguma doença de base que for silenciosa:
• Hemograma completo, ferritina.
• VHS, proteína C reativa (PCR).
• TGO, TGP, gamaglutamiltransferase, proteínas totais e frações.
• Ureia, creatinina, sódio, potássio.
• Cálcio, magnésio, fósforo, fosfatase alcalina.
• Gasometria venosa.
• Antiendomísio IgG e IgA, antitransglutaminase IgA e IgA total.
• TSH, T4 livre.
• IGF1, IGFBP3.
• Urina I.
• Protoparasitológico de fezes.
• Cariótipo (sempre em meninas).
• Observação: teste de estímulo para avaliar a produção de GH deve ser solicitado pelo especialista na suspeita de deficiência de GH.
Diagnóstico por imagem
• Radiografia de mão e punho (para avaliação da idade óssea, segundo método de Greulich-Pyle).
• Ressonância de sela túrcica (na suspeita de deficiência de GH ou alteração de sistema nervoso central).

TRATAMENTO
• O tratamento da baixa estatura depende essencialmente da sua etiologia, e o prognóstico da estatura final é multifatorial, incluindo duração da baixa estatura, avanço ou atraso da idade óssea e estágio puberal.
• O tratamento da baixa estatura de causa não endocrinológica consiste basicamente no tratamento da doença de base, enquanto o paciente com baixa estatura de causa endocrinológica deve ser encaminhado para seguimento com endocrinologista pediátrico.

PRESCRIÇÃO NA PRÁTICA
• Exemplo de prescrição (cada caso deve ser avaliado individualmente, e a decisão deve ser tomada pelo médico responsável pelo caso).
• Paciente de 4 anos, sexo feminino, parda, comparece em consulta de rotina. Mãe refere que a paciente é a menor da turma no colégio e que demora a perder roupas. Refere que desde a introdução alimentar, aos 6 meses, percebeu uma redução na velocidade de crescimento (VC).
• Antecedentes pessoais: recém-nascida de termo, adequada para a idade gestacional, nega internações ou cirurgias prévias, nega comorbidades, nega alergias ou uso de medicação contínua. Desenvolvimento neuropsicomotor sempre dentro do esperado.
• Alimentação: mãe refere alimentação saudável e balanceada, com boa aceitação.
• Sono adequado.
• Vacinação adequada.
• Hábitos urinários normais.
• Hábitos intestinais: evacuação diarreica na maioria das vezes, com episódios intermitentes de distensão abdominal.
• Antecedentes familiares:
• Mãe tem diabete tipo 1, tireoidite de Hashimoto, com 160 cm de estatura, menarca aos 13 anos.
• Pai: hígido, com 175 cm de estatura, refere ter desenvolvido a puberdade na mesma época dos colegas da escola.
• Irmão de 6 anos com crescimento adequado.
• Estatura-alvo: 161 cm ± 5 cm (escore Z entre 0 e -1)
• Exame físico geral sem alterações.
• Antropometria:
• Peso 10 kg (escore Z -3).
• Estatura 92 cm (escore Z entre -2 e -3).
• Relação segmento superior/segmento inferior: 1,36.
• Índice de massa corpórea: 11,8 kg/m2 (magreza).
• Tanner M1P1.
• Hipóteses diagnósticas:
• Baixa estatura proporcionada + desnutrição.
• Foram solicitados exames de investigação para baixa estatura:
• Exames gerais sem alterações.
• Cariótipo 46,XX.
• Antiendomísio IgA e IgG e antitransglutaminase IgA: positivos.
• Hipótese diagnóstica: baixa estatura secundária a doença celíaca.
• Conduta: encaminhamento ao gastroenterologista, para colonoscopia com biópsia.

REFERÊNCIAS
1. Curiati LK. Baixa estatura na criança: diagnóstico e tratamento. InforMed, 2022. Disponível em: https://app.informed.digital/conteudo/6061a8200f822472cefffbbb.
2. Alves CAD. Baixa estatura. In: Alves CAD. Endocrinologia Pediátrica. 1st ed. Barueri: Manole; 2019.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Portaria conjunta nº 28, de 30 de novembro de 2018. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Deficiência do Hormônio do Crescimento – Hipopituitarismo. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2018.
4. Collett-Solberg PF, Ambler G, Backeljauw PF, Bidlingmaier M, Biller BMK, Boguszewski MCS, et al. Diagnosis, Genetics, and Therapy of Short Stature in Children: A Growth Hormone Research Society International Perspective. Horn Res Paediatr. 2019; 92(1):1-14.
5. Grimberg A, DiVall SA, Polychronakos C, Allen DB, Cohen LE, Quintos JB, et al. Guidelines for Growth Hormone and Insulin-Like Growth Factor-I Treatment in Children and Adolescents: Growth Hormone Deficiency, Idiopathic Short Stature, and Primary Insulin-Like Growth Factor-I Deficiency. Horm Res Paediatr. 2016;86(6):361-97.
6. Setian N. Crescimento: abordagem da criança com baixa estatura. In: Damiani D. Endocrinologia Pediátrica na Prática Clínica. 3rd ed. Barueri; Manole; 2018.

 

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