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Como informar e motivar o paciente sem perder a eficácia clínica

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Clínica Médica
Como informar e motivar o paciente sem perder a eficácia clínica

Comunicação clínica é mais do que falar: é saber escutar, adaptar e influenciar

Falar não é informar. E motivar não é convencer. No consultório, o modo como você explica o diagnóstico e propõe o tratamento pode ser tão decisivo quanto o conteúdo da prescrição. Neste texto, você verá como transformar a comunicação clínica em uma ferramenta estratégica para aumentar a adesão terapêutica e fortalecer a relação médico-paciente.

 

Enuncie o problema com clareza (e no tom certo)

Após a anamnese e o exame físico, o momento de informar o diagnóstico exige mais do que repetir termos técnicos. Prefira frases curtas, vocabulário acessível e evite palavras de forte carga emocional. Dizer que o paciente tem um “tumor” é menos impactante do que usar o termo “câncer”, por exemplo. Dependendo do contexto, você pode escolher entre:

  • Enunciação simples: “Você tem uma bronquite crônica. Sabe o que isso significa?”
  • Enunciação parcimoniosa: quando há discrepância entre a sua hipótese diagnóstica e as expectativas do paciente.
  • Enunciação autoritária: indicada em situações críticas, que exigem reconhecimento imediato da gravidade.

 

Propor um plano terapêutico é negociar, não impor

Um tratamento só funciona quando o paciente “compra a ideia”. E isso exige envolvimento. Explique a lógica da conduta — por que ela faz sentido, como age, o que esperar. Use exemplos simples:

  • “O colesterol ruim gruda nas artérias como piche na rua. O remédio e os exercícios ajudam a limpar esse piche.”
  • Ao propor o plano, pergunte: “Faz sentido para você?”, “Quer acrescentar alguma sugestão?”

Essas perguntas simples validam o paciente e reduzem a resistência!

 

Motivar é ajudar o paciente a se sentir capaz

A motivação não nasce de broncas ou ameaças! Ela se fortalece com reconhecimento, metas realistas e pequenas vitórias. E isso vale especialmente para pacientes com baixa adesão. Algumas boas práticas:

  • Apoie o esforço, mesmo que parcial: “Tomar um comprimido já é um passo, vamos evoluir juntos.”
  • Simplifique o regime: uma dose diária, associada a hábitos da rotina.
  • Deixe tudo por escrito. A maioria dos pacientes esquece parte das orientações verbais. Ou seja, se for orientar alongamentos, descreva todos em um papel e entregue! Se o acordo foi tentar reduzir o arroz da dieta, escreva isso também.

Como comunicar más notícias com ética e sensibilidade

Dar uma má notícia é um desafio inevitável. Mas há formas de torná-lo mais humanizado:

  • Evite frases como “Tenho uma má notícia”.
  • Use linguagem neutra: prefira “hepatite ativa” a “hepatite maligna”.
  • Dê tempo para o paciente reagir e pergunte: “Quer saber mais sobre o que isso significa para sua vida?”

Lembre-se: mais do que o impacto da notícia, o que marca o paciente é como ela foi comunicada.

 

Passo a passo para uma entrevista resolutiva

  1. Enunciação do problema de saúde

    • Pode ser simples, múltipla, parcimoniosa (gradual) ou autoritária.
  2. Proposta de ação e tratamento

    • Deve ser apresentada com clareza, com explicações racionais e envolvimento do paciente.
  3. Explicação da evolução previsível

    • Ajuda a criar uma sensação de controle.
  4. Confirmação da compreensão

    • Evitar tom de cobrança; use perguntas abertas.
  5. Precauções e fechamento da consulta

    • Ex: “Se não melhorar, volte sem hesitar.”
  6. Acessibilidade (telefone, e-mail)

    • Raramente gera abusos e reforça vínculo.

 

Técnicas para melhorar a informação

  • Evitar jargões médicos e palavras de alto impacto emocional.
  • Usar analogias e exemplos visuais/táteis (ex: hipertensão = cano de água com pressão).
  • Dar instruções por escrito.
  • Personalizar as orientações com base na rotina do paciente.
  • “Vender” o plano terapêutico com credibilidade.

Adesão terapêutica: como promover

  1. Detectar baixa adesão sem julgamentos.
  2. Valorizar os esforços do paciente.
  3. Ser realista: priorizar metas.
  4. Contar com a equipe de enfermagem.
  5. Simplificar regimes medicamentosos.
  6. Aplicar técnicas de motivação:

    • Intrínseca: autoestima, autocontrole, autoconhecimento.
    • Extrínseca: lembretes, familiares, embalagens adaptadas.

 

Comunicação eficiente não é dom: é técnica treinável!

Você não precisa (nem deve) mudar seu estilo clínico. Mas precisa aprender a usar as técnicas certas no momento certo. Cada paciente requer uma abordagem personalizada. A comunicação bem feita não é só empática — é também estratégica, ética e clínica.

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