Como identificar, classificar e conduzir o tratamento inicial da arritmia cardíaca mais comum no consultório e pronto-socorro.
Sintomas e Diagnóstico
A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais comum na prática clínica, marcada por ritmo ventricular irregular e ausência de ondas P no ECG. Estima-se que sua prevalência global seja crescente, especialmente entre idosos.
Apresentação clínica:
- Palpitações irregulares
- Fadiga, tontura e fraqueza
- Dispneia leve a intensa
- Angina e, raramente, síncope
- Em muitos casos, descoberta incidental no ECG ou após evento tromboembólico
Exames essenciais:
- ECG: diagnóstico confirmado pela ausência de ondas P e ritmo irregularmente irregular
- Ecocardiograma transtorácico: avalia função ventricular, dimensões atriais e presença de doença valvar
- Exames laboratoriais: eletrólitos, função renal e tireoidiana (hipertireoidismo como causa secundária)
- Monitorização ambulatorial: útil em FA intermitente
Importante avaliar causas precipitantes como infecções, embolia pulmonar, hipertiroidismo e consumo abusivo de álcool.
Anticoagulação, controle de ritmo ou frequência?
O manejo inicial da FA, principalmente a de início recente, deve seguir o ABC pathway:
- A – Avaliar necessidade de Anticoagulação
- B – Otimizar o Controle de Sintomas (frequência ou ritmo)
- C – Tratar Comorbidades e Fatores de Risco Cardiovasculares
1. Anticoagulação
Todo paciente deve ser estratificado para risco de AVC usando o escore CHA₂DS₂-VASc. Anticoagulação está indicada se o risco tromboembólico supera o risco hemorrágico.
2. Controle da Frequência x Controle do Ritmo
- Controle da Frequência: preferido na maioria dos casos estáveis. Usa-se betabloqueadores ou bloqueadores dos canais de cálcio não dihidropiridínicos.
- Controle do Ritmo: indicado em pacientes sintomáticos ou com FA de início muito recente (<48h). Pode ser farmacológico ou elétrico, dependendo do quadro clínico.
3. Situações que exigem internação:
- Instabilidade hemodinâmica
- Insuficiência cardíaca aguda
- Sinais de isquemia miocárdica
- Pré-excitação (WPW)
- Frequência ventricular muito elevada não responsiva ao tratamento inicial
A reversão espontânea para ritmo sinusal ocorre em até 70% dos pacientes quando o episódio de FA tem menos de 48 horas.
A fibrilação atrial de início recente é um desafio comum para médicos generalistas e de emergência. A decisão entre controle da frequência ou do ritmo, associada a anticoagulação precoce, impacta diretamente o prognóstico do paciente. Monitoramento clínico cuidadoso e abordagem individualizada são fundamentais.
Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.