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Intoxicação por metanol: o que todo médico precisa saber

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Clínica Médica
Intoxicação por metanol: o que todo médico precisa saber

A intoxicação por metanol é rara, mas representa uma das emergências tóxicas mais graves, e tem acontecido muito nos últimos dias no estado de São Paulo e outros estados do Brasil também em 2025. Associada principalmente ao consumo de bebidas adulteradas, pode levar a cegueira irreversível e até ao óbito se não houver intervenção precoce.

Como o metanol age no organismo

Após ingerido, o metanol é metabolizado pelas mesmas enzimas que processam o etanol. Porém, em vez de gerar subprodutos relativamente inofensivos, o metanol produz formaldeído e ácido fórmico. O ácido fórmico é o principal responsável pela acidose metabólica grave e pela lesão do nervo óptico, que pode resultar em amaurose definitiva.

Quadro clínico e evolução

O início dos sintomas pode ser insidioso. Nas primeiras horas, o paciente pode apresentar sinais semelhantes à embriaguez comum, náuseas, dor abdominal e mal-estar.
Após 24–30 horas, instala-se a acidose metabólica e surgem sintomas mais graves:

  • Distúrbios visuais (visão borrada, escotomas, cegueira);
  • Rebaixamento do nível de consciência, convulsões e coma;
  • Insuficiência renal aguda;
  • Evolução potencial para morte se não tratado rapidamente.

Diagnóstico

O diagnóstico é baseado em história clínica + sinais laboratoriais:

  • Acidose metabólica com gap aniônico aumentado;
  • Gap osmolar elevado;
  • Distúrbios visuais associados à ingestão suspeita.

A dosagem sérica de metanol é confirmatória, mas raramente disponível em serviços de emergência no Brasil.

Tratamento: tempo é visão e vida

O manejo deve ser imediato e envolve:

  • Suporte vital (vias aéreas, ventilação, controle de convulsões);
  • Correção da acidose metabólica com bicarbonato;
  • Antídotos: etanol (oral ou IV) ou fomepizole, que competem pela álcool desidrogenase e bloqueiam a formação do ácido fórmico;
  • Ácido fólico auxilia no metabolismo do ácido fórmico;
  • Hemodiálise, indicada em casos graves, para remover metanol e metabólitos tóxicos.

A intoxicação por metanol é uma emergência médica tempo-dependente. O reconhecimento precoce dos sinais clínicos e laboratoriais, aliado ao início rápido do tratamento com antídotos e suporte avançado, pode ser decisivo para salvar vidas e preservar a visão.

👉 Médico, ao suspeitar de metanol: pense rápido, trate rápido.

 

Referências

  1. Kraut JA, Mullins ME. Toxic alcohols. N Engl J Med. 2018;378:270-80.
  2. Wiener SW. Toxic Alcohols. In: Nelson LS, Howland MA, Lewin NA, Smith SW, Goldfrank LR, Hoffman RS, eds. Goldfrank’s Toxicologic Emergencies. 11th ed. New York: McGraw Hill; 2019. p. 1421-34.
  3. Bucaretchi F, Capitani EM, Madureira PR, Cesconetto DM, Lanaro R, Vieira RJ, et al. Suicide attempt using pure methanol with hospitalization of the patient soon after ingestion: case report. Sao Paulo Med J. 2009;127(2):108-10.
  4. Laranjeira R, Dunn J. Death by methanol poisoning in Brazil. Addiction. 1998;93(7):1103-4.
  5. Silva CAM. Metanol e etilenoglicol. In: Silva CAM. Emergências Toxicológicas: princípios e prática do tratamento de intoxicações agudas. Barueri: Manole; 2022. p. 304-308.

 

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