A candidíase vulvovaginal recorrente é uma condição frustrante tanto para pacientes quanto para médicos. Apesar de comum, o manejo eficaz exige atenção aos fatores imunológicos, microbiológicos e terapêuticos. Este artigo resume as melhores estratégias diagnósticas e terapêuticas para médicos que desejam melhorar o cuidado com mulheres que convivem com infecções fúngicas recorrentes.
Você já atendeu uma paciente com múltiplos episódios de candidíase no ano e que chega ao consultório exausta, muitas vezes após autotratamentos ineficazes? A candidíase vulvovaginal recorrente (CVVR) é definida pela ocorrência de três ou mais episódios sintomáticos em um período de 12 meses. Estima-se que até 23% das mulheres tenham algum episódio recorrente ao longo da vida.
A boa notícia é que há protocolos eficazes para tratamento e prevenção — e este texto vai direto ao ponto.
1. Confirmar o diagnóstico com cultura vaginal
- Sempre solicite cultura vaginal para confirmar infecção e identificar a espécie de Candida (ex: C. albicans, C. glabrata, C. krusei).
- Evite tratar pacientes assintomáticas, cerca de 10 a 20% das mulheres podem ser portadoras assintomáticas.
2. Entender os fatores contribuintes
- Endógenos: genética, polimorfismos imunológicos (ex: IL-4, MBL), resposta inflamatória exacerbada à Candida.
- Exógenos: uso de antibióticos, SGLT2 inibidores, atividade sexual, dietas e outras alterações do microbioma vaginal.
3. Tratamento de primeira Linha: Fluconazol oral
Esquema clássico (para C. albicans):
- Indução: Fluconazol 150 mg VO a cada 72h (3 doses)
- Manutenção: Fluconazol 150 mg VO 1x/semana por 6 meses
4. Alternativas e casos especiais
- Oteseconazol: alternativa potente, especialmente contra C. glabrata. Indicado apenas para mulheres que não estejam em idade reprodutiva. Custo mais alto e uso restrito.
- Grávidas: usar apenas antifúngicos tópicos (clotrimazol ou miconazol), nunca fluconazol ou oteseconazol.
- Lactantes: preferir tópicos. Fluconazol pode ser usado com cautela.
- Espécies não-albicans: usar ácido bórico vaginal, nistatina ou voriconazol (dados limitados). Preferência por terapia local prolongada.
5. Episódio recorrente: o que fazer?
- Confirme nova infecção e revise adesão.
- Se em uso de fluconazol, considere resistência (especialmente se *não-albicans).
- Se MIC > 4 µg/mL, considerar alternativas não azólicas.
- Monitoramento laboratorial geralmente não é necessário com fluconazol semanal, mas é recomendado com cetoconazol ou itraconazol.
6. Estilo de vida e prevenção complementar
Embora com evidências limitadas, algumas medidas podem ajudar:- Reduzir o uso de absorventes diários e roupas apertadas.
- Melhorar controle glicêmico em diabéticas.
- Ajustar dose de estrogênio em contraceptivos, se aplicável.

Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.