Voltar para o blog

Candidíase vaginal de repetição: como tratar com segurança e eficiência

15 min de leitura
2.5k visualizações
Ginecologia e Obstetrícia
Candidíase vaginal de repetição: como tratar com segurança e eficiência
A candidíase vulvovaginal recorrente é uma condição frustrante tanto para pacientes quanto para médicos. Apesar de comum, o manejo eficaz exige atenção aos fatores imunológicos, microbiológicos e terapêuticos. Este artigo resume as melhores estratégias diagnósticas e terapêuticas para médicos que desejam melhorar o cuidado com mulheres que convivem com infecções fúngicas recorrentes. Você já atendeu uma paciente com múltiplos episódios de candidíase no ano e que chega ao consultório exausta, muitas vezes após autotratamentos ineficazes? A candidíase vulvovaginal recorrente (CVVR) é definida pela ocorrência de três ou mais episódios sintomáticos em um período de 12 meses. Estima-se que até 23% das mulheres tenham algum episódio recorrente ao longo da vida. A boa notícia é que há protocolos eficazes para tratamento e prevenção — e este texto vai direto ao ponto.  

1. Confirmar o diagnóstico com cultura vaginal

  • Sempre solicite cultura vaginal para confirmar infecção e identificar a espécie de Candida (ex: C. albicans, C. glabrata, C. krusei).
  • Evite tratar pacientes assintomáticas, cerca de 10 a 20% das mulheres podem ser portadoras assintomáticas.

2. Entender os fatores contribuintes

  • Endógenos: genética, polimorfismos imunológicos (ex: IL-4, MBL), resposta inflamatória exacerbada à Candida.
  • Exógenos: uso de antibióticos, SGLT2 inibidores, atividade sexual, dietas e outras alterações do microbioma vaginal.

3. Tratamento de primeira Linha: Fluconazol oral

Esquema clássico (para C. albicans):

  • Indução: Fluconazol 150 mg VO a cada 72h (3 doses)
  • Manutenção: Fluconazol 150 mg VO 1x/semana por 6 meses
Mais de 80% das pacientes apresentam melhora com esse esquema, mas até metade pode ter recaída após a suspensão do tratamento.  

4. Alternativas e casos especiais

  • Oteseconazol: alternativa potente, especialmente contra C. glabrata. Indicado apenas para mulheres que não estejam em idade reprodutiva. Custo mais alto e uso restrito.
  • Grávidas: usar apenas antifúngicos tópicos (clotrimazol ou miconazol), nunca fluconazol ou oteseconazol.
  • Lactantes: preferir tópicos. Fluconazol pode ser usado com cautela.
  • Espécies não-albicans: usar ácido bórico vaginal, nistatina ou voriconazol (dados limitados). Preferência por terapia local prolongada.

5. Episódio recorrente: o que fazer?

  • Confirme nova infecção e revise adesão.
  • Se em uso de fluconazol, considere resistência (especialmente se *não-albicans).
  • Se MIC > 4 µg/mL, considerar alternativas não azólicas.
  • Monitoramento laboratorial geralmente não é necessário com fluconazol semanal, mas é recomendado com cetoconazol ou itraconazol.

6. Estilo de vida e prevenção complementar

Embora com evidências limitadas, algumas medidas podem ajudar:
  • Reduzir o uso de absorventes diários e roupas apertadas.
  • Melhorar controle glicêmico em diabéticas.
  • Ajustar dose de estrogênio em contraceptivos, se aplicável.
A candidíase de repetição é mais do que um simples “caso ginecológico” — é uma condição que afeta significativamente a qualidade de vida. Como médicos, nossa atuação deve ir além da prescrição: requer diagnóstico preciso, tratamento sustentado e uma escuta ativa. O manejo bem-sucedido é possível, desde que se respeite a complexidade da condição e as nuances individuais da paciente. ✅ Compartilhe este conteúdo com colegas da Ginecologia, Clínica Médica e Medicina de Família.