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O essencial para o tratamento da Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida

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Clínica Médica
O essencial para o tratamento da Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida

A insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) é uma condição complexa, porém tratável. O manejo eficaz passa por reconhecer etiologias tratáveis, iniciar terapias baseadas em evidências e promover autocuidado estruturado. Neste artigo, organizamos o que realmente importa para o manejo ambulatorial e hospitalar da ICFER.

 

A ICFER, definida por uma fração de ejeção ≤ 40%, é um dos grandes desafios da medicina moderna. Apesar das diversas opções terapêuticas disponíveis, muitos pacientes continuam com sintomas importantes, reações adversas evitáveis e internações repetidas. Este texto é um guia rápido e atualizado para quem está na linha de frente do cuidado: médicos da clínica médica, cardiologia, medicina de família e emergência.

 

Tratar a causa base

  • Doença isquêmica: avaliar e revascularizar, quando indicado (especialmente com FEVE ≤35%).
  • Valvopatias: intervir se houver disfunção grave (ex: estenose aórtica).
  • Cardiomiopatias específicas: procurar causas reversíveis (álcool, tireoide, amiloidose, sarcoidose).
  • Hipertensão: agressivo controle da PA com medicações que também tratem a IC.
  • Arritmias: controle de FA ou outras arritmias que perpetuam a disfunção ventricular. 

Terapia farmacológica baseada em evidência

O tratamento farmacológico da ICFER visa reduzir mortalidade, sintomas e hospitalizações:

As 4 medicações fundamentais (Iniciar precocemente):

  • IECA/BRA/ARNI (preferência para sacubitril-valsartana)
  • Betabloqueadores (carvedilol, bisoprolol ou succinato de metoprolol)
  • Antagonista da aldosterona (MRA) (espironolactona ou eplerenona)
  • iSGLT2 (dapagliflozina ou empagliflozina – mesmo em não diabéticos) 

Ajustes importantes

  • Diuréticos para congestão (sem impacto direto em mortalidade).
  • Hidralazina + nitrato: opção para pacientes negros ou intolerantes a IECA/BRA.
  • Digoxina: caso selecionado com FA e sintomatologia persistente.
  • Evite AINEs, antiarrítmicos classe I, verapamil, diltiazem e tiazolidinedionas.

Reabilitação e autocuidado

  • Educação e autogerenciamento: peso diário, restrição de sal (≈3g/dia), evitar tabagismo, álcool, drogas.
  • Reabilitação cardíaca supervisionada: indicada para classe funcional II-III.
  • Monitoramento de peptídeos natriuréticos: pode auxiliar na titulação terapêutica. 

Dispositivos e terapias avançadas

  • CDI (Cardiodesfibrilador Implantável): para prevenção primária em FEVE ≤35% e classe funcional II ou III.
  • TRC (Terapia de Ressincronização Cardíaca): pacientes com QRS ≥130ms, FEVE reduzida e dissincronia.
  • Suporte circulatório mecânico (ex: LVAD) e transplante cardíaco: pacientes refratários, estágio D. 

Cuidados paliativos

  • Indispensáveis em ICFER avançada.
  • Abordagem precoce melhora tomada de decisão e qualidade de vida.
  • Controle de sintomas, planejamento de cuidados e discussões sobre ICD ou terapia fútil. 

A abordagem moderna da ICFER é multifacetada e exige mais do que prescrever remédios: envolve entender etiologias, monitorar resposta clínica e promover autonomia do paciente.

O cenário terapêutico evoluiu, e a combinação precoce das 4 medicações pilares (IECA/ARNI + BB + MRA + iSGLT2) é o novo padrão-ouro. Avaliações contínuas, educação estruturada e reabilitação são tão importantes quanto qualquer prescrição.



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