O câncer colorretal é uma doença tratável e, com diagnóstico precoce, apresenta alta chance de cura. A seguir, saiba quem deve fazer o rastreamento, quais exames estão disponíveis e as recomendações das principais entidades médicas.
1. Por que rastrear?
O rastreamento consiste na realização de exames em pessoas sem sintomas, com o objetivo de identificar pólipos (lesões pré-cancerosas) ou tumores em fases iniciais. Esse tipo de abordagem reduz tanto a incidência quanto a mortalidade por CCR, especialmente pela remoção de lesões precursoras antes que evoluam para câncer invasivo.
2. Quem deve fazer o rastreamento?
Risco médio (sem histórico familiar ou condição pregressa)
- Início aos 45 anos até os 75 anos
- Entre 76 e 85 anos, a indicação deve ser individualizada conforme a saúde geral, histórico de exames anteriores e expectativa de sobrevida.
- A partir dos 86 anos, o rastreamento não é recomendado.
Risco elevado (histórico familiar ou síndrome genética)
Se um parente de 1º grau foi diagnosticado com CCR antes dos 60 anos, recomenda-se: – Início do rastreamento aos 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico do familiar — o que ocorrer primeiro; – Colonoscopia a cada 5 anos.
3. Quais exames são recomendados?
De acordo com as diretrizes de 2021 da American College of Gastroenterology (ACG) e da USPSTF, para adultos de risco médio, os seguintes exames são recomendados:
Exame | Frequência | Observações |
---|---|---|
Colonoscopia | a cada 10 anos | Padrão-ouro, permite visualização total do cólon e remoção de pólipos |
FIT (teste imunológico fecal) | anualmente | Detecta sangue oculto nas fezes |
DNA -FIT (teste de DNA fecal + FIT) | a cada 1–3 anos | Identifica mutações genéticas fecais; se positivo, realizar colonoscopia |
Sigmoidoscopia flexível | a cada 5 anos | Alternativa — visualiza apenas o reto e parte do cólon |
Colonografia por TC | a cada 5 anos | Exame de imagem 2D/3D, sem sedação, mas sem possibilidade de biópsia |
Endoscopia por videocápsula | a cada 5 anos | Menos usada, não recomendada como primeira escolha |
Exame de sangue (Septina -9) | — | Pouco sensível; não recomendado pelas diretrizes ACG |
4. Realidade no Brasil
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, o rastreamento populacional só é viável se houver estrutura de confirmação diagnóstica e tratamento disponíveis. No Brasil, ainda há barreiras como: – Custos logísticos do teste de sangue oculto nas fezes – Baixa adesão populacional – Risco de excesso de falsos positivos e sobrecarga na colonoscopia
Por isso, a estratégia atual aponta para: 1. Educação em saúde para população e profissionais 2. Acesso imediato à colonoscopia e endoscopia digestiva para casos suspeitos 3. Individualização da decisão entre 76 e 85 anos, conforme características do paciente
5. Recomendações principais
- 45–75 anos: rastreamento anual de FIT ou colonoscopia a cada 10 anos
- 76–85 anos: decisão individual — avaliar com o médico
- >85 anos: não rastrear
- Histórico familiar: colonoscopia a cada 5 anos desde os 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico familiar
6. Conclusão
O câncer colorretal é uma das neoplasias mais preveníveis por meio do rastreamento adequado. A adoção de protocolos personalizados, com base em diretrizes internacionais e na realidade brasileira, é fundamental para garantir diagnóstico precoce, melhor resultado clínico e uso racional dos recursos do sistema de saúde.
7. Referências
- MSD Manuals – Rastreamento de Câncer Colorretal. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/tumores-do-trato-gastrointestinal/rastreamento-de-c%C3%A2ncer-colorretal
- U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF). Colorectal Cancer: Screening, 2021. Disponível em: https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/colorectal-cancer-screening
- Ministério da Saúde – Protocolo clínico para rastreamento de câncer de cólon e reto. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2024/relatorio-preliminar-protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt-do-adenocarcinoma-de-colon-e-reto
- Organização Mundial da Saúde – Rastreamento populacional de CCR no Brasil. Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2022/05/Protocolo-de-Acao-Programatica-no-Cancer-Colorretal_Prevencao-e-Rastreamento.pdf