Evitar alimntos alergênicos durante a gestação e a amamentação não previne doenças alérgicas no bebê — e pode até ser prejudicial. Evidências atuais apontam que uma dieta materna variada, com consumo de vegetais, iogurte e vitamina D, é mais promissora. Veja o que realmente importa.
A ascensão das doenças alérgicas na infância — como dermatite atópica, asma e alergias alimentares — levanta uma dúvida frequente entre gestantes: “Devo evitar certos alimentos para proteger meu bebê?” A resposta curta é: não. Na prática clínica, é comum nos depararmos com mães bem-intencionadas restringindo leite, ovos, amendoim e outros alimentos na tentativa de prevenir alergias. No entanto, essa conduta não é sustentada pela melhor evidência científica disponível.
Evitar alimentos alergênicos não previne alergias
- Revisões sistemáticas mostram que dietas de exclusão durante a gestação ou lactação não reduzem a incidência de alergias no bebê — mesmo em populações de risco.
- Em alguns casos, evitar alimentos como leite e ovos durante a gravidez aumentou o risco de alergias em crianças com histórico familiar positivo.
Exemplo: Um estudo mostrou que mães que evitaram ovos e leite tiveram filhos com maior risco de alergia ao ovo aos 5 anos.
Dieta variada pode ter efeito protetor
- Maior consumo de iogurte e vegetais na gestação foi associado a menor risco de:
- Asma
- Dermatite atópica
- Rinite alérgica
- Sibilância
- Dietas com alto consumo de cereais industrializados, frituras e carne vermelha foram associadas a maior risco de doenças alérgicas. A diversidade alimentar materna parece promover um ambiente imunológico mais tolerante no feto e lactente.
Ingerir alergênicos pode ser benéfico (com moderação)
- Algumas evidências mostram que ingerir amendoim e leite na gravidez pode reduzir a chance de alergia nesses alimentos na infância.
- No entanto, ainda não se recomenda a ingestão proposital de alergênicos apenas com esse fim — a decisão deve ser individualizada.
Suplementos: o que funciona?
- Vitamina D: mostra potencial na redução do risco de asma na infância. Ainda em estudo para outras alergias.
- Ômega-3, vitaminas C e E: sem evidências consistentes de benefício.
- Prebióticos e probióticos: discutidos separadamente; ainda inconclusivos para prevenção.
A prevenção primária de doenças alérgicas começa no pré-natal, mas não com dietas de restrição alimentar. A abordagem mais promissora está na manutenção de uma dieta materna saudável, variada e equilibrada, com atenção à adequação nutricional e, possivelmente, à suplementação de vitamina D.
Como médicos, precisamos desmistificar o medo do amendoim e do leite durante a gravidez — e, ao mesmo tempo, orientar com base nas melhores evidências disponíveis.
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