Transtornos Comportamentais na Criança!

Autor: Dr. Ricardo Halpern

Introdução:

 A pediatria, nos últimos anos, passou por diversas modificações em relação aos tópicos e queixas que figuram dentro dos consultórios; questões sobre a promoção da saúde global da criança, do desenvolvimento, da competência social e do funcionamento da relação família-criança começaram a ocupar a maior parte das preocupações dos profissionais que se dedicam ao acompanhamento contínuo do paciente pediátrico. Esta nova configuração estabelecida deu luz à importância da Puericultura como ponto central no desenvolvimento da criança e do adolescente. Neste texto, considerando estas novas preocupações, discorreremos sobre este tópico importante que é cada vez mais recorrente em consultórios e hospitais, os chamados Transtornos Comportamentais, a fim de fornecer ao leitor um breve, porém abrangente, panorama sobre estes casos. 

 

Epidemiologia dos Transtornos do Comportamento:

Estudos mostram que em torno de 15 a 16% da população possui algum tipo de dificuldade de comportamento e ajustamento, sendo mais comum em pacientes do sexo masculino do que feminino. Dos transtornos com maior prevalência em pacientes brasileiros, temos o Transtorno Oposicional Desafiador (TOD) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); embora também comuns, os Transtornos de Ansiedade e de Humor são menos frequentes. Considerando a porcentagem de ocorrência, dentre pacientes pediátricos diagnosticados com transtornos de comportamento, 50% dos casos são referentes a TOD e TDAH, 10% a Transtornos de Ansiedade e apenas 7% estão relacionados a Transtornos de Humor. Definimos o termo “comportamento” em quatro especificações:

Assim, mesmo que consigamos medir o comportamento, os instrumentos utilizados, como em muitas questões relacionadas com desenvolvimento, são apenas um guia, não um definidor diagnóstico. 

 

O que é um comportamento adequado e o que não é? 

As queixas relacionadas à existência de um comportamento adequado são muito comuns, mesmo que não inicialmente, em consultas pediátricas; geralmente são frutos de uma preocupação exagerada dos pais e da escola. Com isso em mente, devemos tomar cuidado para não reproduzirmos potenciais erros diagnósticos que podem vincular rótulos aos nossos pacientes, pois tal rotulação é capaz de gerar danos significativos no desenvolvimento da criança. A vinculação de rótulos a um paciente têm o poder de alterar a imagem e a autoestima da criança. O rótulo, na maioria das vezes, não traz nenhum benefício.

O cuidado atento na avaliação do comportamento é fundamental, a definição diagnóstica de um comportamento como transtorno pode trazer muitos benefícios para o tratamento do paciente, porém, como dito acima, em certos casos o seu efeito negativo acaba prevalecendo. Desse modo, como podemos ter segurança na hora de definir um certo comportamento como característico de um transtorno?

Consideramos o Transtorno de Comportamento como um padrão repetitivo e persistente de um comportamento no qual são violados direitos básicos, normas e regras sociais importantes apropriadas à idade. Temos, então, uma definição bem ampla. Devemos considerar, em nossas tentativas diagnósticas, a existência de regras e normas sociais que são aceitáveis em algumas faixas etárias e inaceitáveis em outras.

 

Mecanismos de Ação:

Considerando a evolução do desenvolvimento, todos os indivíduos apresentam sentimentos, conflitos, angústias, ideias e medos, e com o passar do tempo vão adquirindo mecanismos adequados para resolver essas questões. O amadurecimento é uma etapa natural do desenvolvimento, e com ele os indivíduos desenvolvem mecanismos e estratégias para atingir uma resolução e um manejo melhor e mais adequado para cada problema.

Quando, porém, identificamos um indivíduo que apresenta transtornos do comportamento, percebemos que algumas características desta evolução do desenvolvimento acabam sendo comprometidas, e isso acontece por várias razões. Todos aqueles sentimentos, aqueles conflitos, são veiculados pela criança através de um canal de descarga descontrolado. Acontece o que chamamos de uso inadequado dos mecanismos de regulação, e, com isso, temos uma resposta inadequada para os problemas apresentados.

 

Tipos de Transtornos Comportamentais:

Transtornos Regulatórios: são chamados assim transtornos que apresentam sintomas como distúrbios de sono, choro excessivo, irritabilidade, dificuldades na alimentação, auto-estimulação corporal ou movimentos não usuais; eles estão fortemente associados com sintomas disfuncionais característicos da fase final da pré-escola e da idade escolar como um todo. 

Transtornos Sociais / Ambientais: classificamos assim transtornos onde existem dificuldades em relação aos vínculos primordiais, desinteresse nos brinquedos e dificuldade de separar a criança dos pais. São transtornos que estão relacionados às questões vinculares da criança. 

Transtornos Psico/Fisiológicos: classificamos assim casos em que a criança, sem nenhum motivo orgânico, apresenta déficit de crescimento, o que nós chamamos de “no organic failure to thrive”. Os sintomas associados a este tipo de transtorno são vômitos recorrentes, diarreia crônica, crises de asma e dermatite.

 

Referências:

Todas as informações presentes neste texto foram retiradas da aula “Como detectar dificuldades escolares e problemas de comportamento”, do Curso de Puericultura da Sociedade Brasileira de Pediatria, ministrada pelo Dr. Ricardo Halpern. Para maiores informações, confira o curso completo. É importante ressaltar que nenhuma informação foi alterada, o texto foi construído apenas como forma de reorganizar as ideias apresentadas pelos profissionais da SBP, facilitando a leitura dos interessados.

 

Conheça o autor:

Dr. Ricardo Halpern (In Memoriam): Doutor em Pediatria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pós-doutor em Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento pelo Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill (UNC-CH). Dr. Halpern foi um dos principais médicos a atuar na área da Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento no Brasil.

 

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