As Diretrizes Curriculares Nacionais de Medicina (DCNs) estão prestes a mudar. No dia 29 de setembro, o Brasil terá uma nova versão que substitui a de 2014. Mais tecnologia, foco no cuidado integral, saúde mental dos estudantes e compromisso com populações vulneráveis estão entre as novidades.
O que são as DCNs e por que elas importam?
As DCNs são o documento que define como deve ser a formação do médico no Brasil. Elas determinam o perfil do egresso, as competências necessárias e a organização do curso. Em outras palavras: elas orientam desde o currículo até a forma como os alunos vivenciam os estágios e o internato.
A versão em vigor é de 2014 . Agora, depois de 11 anos, teremos um novo marco regulatório. Principais mudanças das DCNs de 2025 em relação às de 2014:
Perfil do médico e competências ampliadas
- 2014: médico generalista, humanista, crítico e reflexivo, atuando na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação.
- 2025: mantém a base, mas adiciona atuação como agente de transformação social, com foco em liderança colaborativa, empatia e enfrentamento de desafios do século XXI – como emergências sanitárias, mudanças climáticas e saúde digital.
Novas áreas de competência
- 2014: três eixos – Atenção à Saúde, Gestão em Saúde e Educação em Saúde .
- 2025: mantém os eixos, mas detalha 27 competências do egresso, incluindo:
- Uso crítico de Inteligência Artificial, Big Data e telemedicina;
- Cuidado a populações vulneráveis (indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua, LGBTQAIP+, migrantes, refugiados, privados de liberdade);
- Compromisso com sustentabilidade e mudanças climáticas.
Estrutura curricular e metodologias
- 2014: carga mínima de 7.200h em 6 anos, internato de no mínimo 35% do curso (com 30% obrigatório em Atenção Básica e Urgência/Emergência no SUS) .
- 2025: mantém 7.200h e internato de 2 anos, mas reforça:
- 30% do internato em MFC e Urgência/Emergência;
- Inclusão obrigatória de Saúde Mental, Medicina Intensiva e Ortopedia;
- Uso estruturado de avaliação programática com feedback.
Saúde mental e bem-estar do estudante
- 2014: não havia menção explícita.
- 2025: prevê janelas curriculares (“áreas verdes”) para autocuidado e atividades extracurriculares, núcleos de apoio pedagógico (NAPED) e programas de saúde mental e inclusão.
Integração com pesquisa e residência
- 2014: foco em formação generalista.
- 2025: estimula participação em pesquisa e integração com programas de residência médica e pós-graduação desde a graduação.
O que esperar daqui para frente?
As novas DCNs representam uma virada de chave: o médico continua sendo generalista e humanista, mas agora precisa também dominar tecnologias digitais, lidar com emergências globais, valorizar a diversidade e cuidar da própria saúde mental. O desafio agora será a implementação pelas escolas médicas: adaptar currículos, preparar docentes e garantir infraestrutura adequada.
As DCNs de 2025 reforçam que a medicina é ciência, técnica e humanidade ao mesmo tempo. O futuro médico brasileiro deverá estar preparado não só para atender indivíduos, mas também para enfrentar crises sanitárias, promover equidade e navegar em um mundo cada vez mais digital.
Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.