A sua consulta médica tem cor?
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O ano de 2025 foi marcado por mudanças relevantes em diretrizes clínicas, revisões sistemáticas e novas evidências que impactaram diretamente a tomada de decisão médica. Mais do que atualizações pontuais, observou-se um movimento consistente em direção à individualização do cuidado, ao uso criterioso de tecnologias e ao fortalecimento da medicina baseada em evidências.
Neste texto, reunimos uma retrospectiva das principais atualizações discutidas ao longo do ano nas redes da Manole, com foco no que realmente muda a prática clínica do médico.
As atualizações mais recentes reforçaram que uma única exacerbação moderada ou grave já é suficiente para aumentar de forma significativa o risco de eventos futuros. Isso trouxe impacto direto na estratificação de risco e na intensificação terapêutica precoce.
Outro avanço importante foi a ampliação das recomendações de vacinação e a incorporação mais estruturada do manejo de multimorbidades, reconhecendo que a doença pulmonar obstrutiva crônica raramente ocorre de forma isolada.
Essa mudança desloca o foco do número de exacerbações passadas para a prevenção de risco futuro, exigindo acompanhamento mais ativo e longitudinal.
As atualizações de 2025 no suporte avançado de vida em adultos reforçaram princípios fundamentais: qualidade da ressuscitação, clareza nos algoritmos e atenção ao cuidado pós-retorno da circulação espontânea.
Houve uma valorização maior da tomada de decisão baseada em prognóstico, com foco em evitar intervenções fúteis e alinhar o cuidado aos objetivos do paciente e da família. O manejo pós-parada ganhou destaque como etapa crítica para desfechos neurológicos e sobrevida.
As novas diretrizes reforçaram a necessidade de confirmação diagnóstica fora do ambiente do consultório sempre que possível, reduzindo diagnósticos excessivos e melhorando a acurácia clínica.
Além disso, houve maior ênfase na estratificação de risco cardiovascular global e na individualização de metas terapêuticas, especialmente em idosos, pacientes frágeis e pessoas com múltiplas comorbidades. O controle pressórico passou a ser visto menos como um número isolado e mais como parte de uma estratégia integrada de cuidado.
O rastreamento do câncer do colo do útero avançou com a consolidação do teste molecular para detecção do papilomavírus humano como estratégia preferencial em diversos contextos. A possibilidade de autocoleta, em cenários específicos, foi reconhecida como ferramenta para ampliar acesso sem comprometer a segurança.
No câncer de mama, o debate reforçou a importância da decisão compartilhada, considerando idade, risco individual, preferências da paciente e potenciais danos do rastreamento excessivo. O foco deixou de ser apenas ampliar cobertura e passou a ser oferecer rastreamento com benefício real.
As discussões do Novembro Azul em 2025 ampliaram o olhar sobre a saúde do homem, indo além do exame isolado da próstata. Houve reforço das recomendações contra rastreamento indiscriminado em populações sem benefício claro, com valorização da avaliação de risco individual e do cuidado longitudinal.
Essa abordagem contribui para reduzir sobrediagnóstico, intervenções desnecessárias e iatrogenias, sem perder oportunidades reais de cuidado.
Uma atualização importante em 2025 foi a publicação de revisões sistemáticas mais rigorosas questionando o benefício universal da suplementação de cálcio na gestação para prevenção de pré-eclâmpsia.
Os dados reforçaram que a indicação deve considerar risco individual, contexto nutricional e acesso alimentar, afastando a lógica de suplementação indiscriminada. O médico passa a ter papel central na avaliação criteriosa e no aconselhamento baseado em evidências atualizadas.
Ensaios clínicos recentes demonstraram que terapias farmacológicas voltadas ao tratamento da obesidade podem reduzir significativamente eventos respiratórios durante o sono em pacientes com apneia obstrutiva.
Esses achados ampliam a compreensão da apneia como condição sistêmica, relacionada ao metabolismo e ao peso corporal, e abrem espaço para abordagens integradas que vão além dos dispositivos tradicionais de pressão positiva.
Mais do que novas diretrizes, 2025 consolidou algumas mensagens centrais para a prática clínica:
• Atualização contínua é parte do cuidado responsável
• Evidência científica precisa ser interpretada, não apenas aplicada
• Decisão compartilhada e individualização são pilares do cuidado moderno
• Menos intervenções nem sempre significa menos cuidado
Na Manole, seguimos comprometidos em traduzir ciência de qualidade em conteúdos úteis, críticos e aplicáveis à realidade do médico.
Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease, 2026.
American Heart Association. Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care, atualização 2025.
Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Sociedade Brasileira de Cardiologia, atualização mais recente.
World Health Organization. Cervical cancer screening guidelines.
United States Preventive Services Task Force. Prostate cancer screening recommendations.
Cochrane Database of Systematic Reviews. Calcium supplementation during pregnancy for preventing hypertensive disorders.
New England Journal of Medicine. Tirzepatide in adults with obesity and obstructive sleep apnea.

Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.
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