Uma abordagem prática para identificar, diagnosticar e compreender as causas mais frequentes do hematoma subdural, uma emergência neurológica subestimada no consultório.
Quais pacientes estão em risco?
O hematoma subdural (HSD) é um tipo de hemorragia intracraniana resultante do sangramento no espaço entre as membranas dura-máter e aracnoide. Pode ocorrer de forma aguda, subaguda ou crônica.
Principais fatores de risco:
- Trauma craniano (motivo mais comum)
- Idade avançada (pelo aumento do espaço subdural devido à atrofia cerebral)
- Alcoolismo crônico
- Uso de anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários (warfarina, aspirina, DOACs)
- Distúrbios de coagulação (plaquetopenia, hepatopatias)
- Hipotensão intracraniana (pós-punção lombar, fístulas liquóricas)
- Neoplasias durais ou metástases (causas mais raras)
Em adultos jovens, acidentes automobilísticos predominam como causa. Já em idosos, quedas simples são a principal origem.
Diagnóstico
Quadro clínico variável:
- Cefaleia progressiva
- Alterações do nível de consciência
- Déficits neurológicos focais
- Convulsões
- Sinais de hipertensão intracraniana (vômitos, midríase, alteração do padrão respiratório)
Importante: O HSD crônico pode evoluir de forma insidiosa, com sintomas inespecíficos como lentificação cognitiva, apatia ou quedas de repetição.
Exames de imagem:
- TC de crânio sem contraste: exame inicial de escolha; o hematoma aparece como coleção em crescente, hiper ou hipodensa dependendo do tempo de evolução.
- RM de encéfalo: útil em casos crônicos ou duvidosos, mostrando membranas, hematomas mistos ou pequenas coleções.
Classificação do HSD conforme tempo de evolução:
- Agudo: até 3 dias
- Subagudo: 3 a 14 dias
- Crônico: mais de 14 dias
Atenção: Em pacientes anticoagulados ou idosos, mesmo traumas leves podem resultar em HSD significativo.
O hematoma subdural é uma condição potencialmente grave e subdiagnosticada, principalmente nos casos crônicos. Reconhecer fatores predisponentes e sinais clínicos sutis, além de solicitar exames de imagem precocemente, é fundamental para evitar complicações neurológicas irreversíveis
Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.