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Pessoas que convivem com HIV e tem sífilis

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Clínica Médica
Pessoas que convivem com HIV e tem sífilis

A coinfecção por sífilis e HIV é cada vez mais frequente e exige atenção redobrada no diagnóstico, tratamento e seguimento. Este texto apresenta os principais pontos clínicos que todo médico precisa saber para manejar com segurança esses pacientes com base nas recomendações atualizadas.

 

Por que a sífilis se comporta de forma diferente em pessoas com HIV?

A infecção pelo Treponema pallidum pode ser mais agressiva e apresentar manifestações atípicas em pacientes com HIV, especialmente naqueles com imunossupressão significativa.

Aspectos clínicos importantes:

  • Maior risco de neurossífilis em qualquer fase
  • Lesões cutâneas podem ser mais extensas e ulceradas
  • Possível sobreposição entre fases (ex: sífilis secundária com lesões primárias ativas)
  • Resposta sorológica pode ser mais lenta ou ausente

Importante: A sífilis pode ser porta de entrada para o HIV (e vice-versa), e a presença de uma deve sempre motivar a investigação da outra.

 

Como diagnosticar e monitorar? Cuidado com interpretações sorológicas

O diagnóstico segue os mesmos princípios da população geral: testes não treponêmicos (VDRL, RPR) e treponêmicos (FTA-ABS, TPPA). Porém, a interpretação pode ser mais complexa:

Dicas práticas:

  • Pacientes com HIV podem apresentar títulos mais altos de VDRL na fase inicial
  • Reações sorológicas falsas-positivas são mais comuns
  • Pode haver maior risco de falha terapêutica — o acompanhamento sorológico é essencial

Seguimento ideal:

  • Repetir VDRL em 3, 6, 9, 12 e 24 meses após o tratamento
  • Espera-se uma queda de 4 vezes no título em até 12 meses (ex: de 1:32 para 1:8)
  • Ausência de resposta → considerar reinfecção, falha terapêutica ou neurossífilis

Tratamento: a penicilina continua sendo o padrão-ouro

Para sífilis primária, secundária ou latente precoce:

  • Benzatina penicilina G, dose única de 2,4 milhões de unidades IM

Para sífilis latente tardia ou de duração indeterminada:

  • Benzatina penicilina G, 2,4 milhões de unidades IM, 1x por semana por 3 semanas

Para neurossífilis (mais comum em pessoas com HIV):

  • Penicilina G cristalina 18–24 milhões de unidades/dia IV, por 10–14 dias

Importante: o uso de ceftriaxona é considerado alternativa em casos de alergia, mas a dessensibilização à penicilina ainda é preferida, especialmente para neurossífilis.

A coinfecção HIV–sífilis exige um olhar clínico atento, não só para o diagnóstico, mas também para o seguimento sorológico e prevenção de complicações como neurossífilis. A boa notícia é que, com tratamento adequado e acompanhamento regular, a resposta costuma ser satisfatória.

 

Referência:
Marra, CM; Zetola, NM; Berzow, D. Syphilis in persons with HIV. UpToDate. Última atualização em 4 de junho de 2024. Revisão da literatura até junho de 2025. Disponível em: www.uptodate.com

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