O que é neurossífilis e por que ela ainda desafia os médicos?
A neurossífilis é uma infecção do sistema nervoso central causada pelo Treponema pallidum. Saiba como identificar, diagnosticar e tratar essa…
Um estudo recente, divulgado no Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2025), em Madrid, e publicado no Lancet, reacendeu o debate sobre o papel da aspirina (AAS) na prevenção cardiovascular. A pesquisa sugere que a substituição do AAS pelo Clopidogrel pode trazer benefícios em determinados contextos, mas também levanta críticas metodológicas e abre caminho para novos estudos. Entenda os principais achados e o que muda (ou não) na prática clínica.
A aspirina sempre foi considerada um pilar no tratamento de pacientes após eventos cardiovasculares, especialmente em associação a inibidores de P2Y12 no contexto da dupla antiagregação plaquetária.
O estudo SMART-CHOICE 2, apresentado no ESC 2025, comparou estratégias de manutenção com AAS versus o uso isolado do Clopidogrel, avaliando eficácia e segurança. Os resultados sugerem que a monoterapia com o novo agente não é inferior — e em alguns subgrupos pode até reduzir o risco de sangramento, sem aumentar eventos isquêmicos.
Pontos positivos:
Críticas e limitações:
Ou seja, os achados levantam hipóteses importantes, mas não são suficientes para uma mudança imediata nas diretrizes.
Por enquanto, a aspirina segue sendo a medicação mais utilizada e recomendada pelas diretrizes para prevenção secundária em pacientes com doença aterotrombótica. No entanto, o estudo abre a discussão sobre o futuro da antiagregação: será que, em breve, passaremos a substituir o AAS por novos agentes de forma sistemática?
A resposta ainda não é definitiva, mas o debate já começou — e deve guiar novos ensaios clínicos nos próximos anos.
| Dimensão | AAS (Aspirina) | Clopidogrel |
| Mecanismo de ação | Inibe irreversivelmente COX-1 → ↓ tromboxano A2 | Profármaco que bloqueia P2Y12 (antagonista irreversível) |
| Indicação clássica | Prevenção secundária aterotrombótica; parte da DAPT | DAPT com AAS após ICP/ACS; prevenção de eventos isquêmicos |
| Papel após ICP (pós-ACS/estáveis) | Usado em DAPT com P2Y12 (início precoce pós-ICP) | Parte da DAPT inicial; opção de manutenção como monoterapia |
| Monoterapia de manutenção | Tradicionalmente mantida a longo prazo | Estudo recente sugere não inferioridade vs AAS; menos sangramento em alguns recortes |
| Risco de sangramento | Moderado a maior (dependente de dose e fatores clínicos) | Potencialmente menor sangramento GI que AAS em manutenção |
| Resistência/variabilidade | Menor variabilidade clínica; falhas ligadas à adesão/dose | Variabilidade metabólica (CYP2C19) → resposta heterogênea |
| Interações relevantes | AINEs, anticoagulantes, risco GI, alergia/asma aspirina | Interações com inibidores de CYP2C19 (ex.: omeprazol) |
| Cenários preferenciais | Custo muito baixo; ampla disponibilidade; quando alergia a P2Y12 | Intolerância/alto risco GI com AAS; sangramento GI prévio; uso concomitante de IBP |
| Pontos do estudo recente (ESC 2025) | Mantém-se como comparador histórico; debate sobre real necessidade crônica | Monoterapia com P2Y12 manteve desfechos isquêmicos e reduziu sangramento em alguns recortes |
| Limitações do estudo | Seguimento relativamente curto; subgrupos pouco representados | Populações específicas não totalmente avaliadas; necessidade de replicação/seguimento mais longo |
O AAS pode estar diante de um possível ponto de virada. Embora ainda seja cedo para decretar seu fim, o estudo SMART-CHOICE 2 mostra que a medicina cardiovascular continua em evolução, buscando sempre equilibrar eficácia e segurança. O que hoje é hipótese pode se tornar prática consolidada amanhã.
Quer receber atualizações em primeira mão sobre mudanças em diretrizes e novos estudos clínicos? Fique de olho no Blog Manole!
Referência:
Hahn, JY et al. SMART-CHOICE 2: Lancet publication and ESC 2025 presentation. The Lancet. Apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia (ESC), 2025. Disponível em: www.thelancet.com

Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.

Gabriel Henriques Amorim é médico (CRM-SP 272307), especialista em Educação na Saúde pela USP e residente de Medicina de Família e Comunidade no Hospital das Clínicas da FMUSP. No blog da Manole, compartilha conteúdos práticos, baseados em evidências, voltados para o dia a dia do cuidado em saúde.
A neurossífilis é uma infecção do sistema nervoso central causada pelo Treponema pallidum. Saiba como identificar, diagnosticar e tratar essa…
A intoxicação por metanol é rara, mas representa uma das emergências tóxicas mais graves, e tem acontecido muito nos últimos…